quinta-feira, outubro 31, 2013

Conta com meu conto - O fetiche do oitavo andar

O fetiche do oitavo andar  - por Rapha Silva

As mãos acariciavam os cabelos, deslizava pelo pescoço em direção aos seios, seguia pela lateral da costela, dando voltas com o polegar pelo umbigo, até escorregar serenamente e estacionar na vagina. As carícias faziam parte da rotina da advogada Deise Amaral e do engenheiro Carlos Peixoto. O casal acomodado no oitavo andar de um espaçoso apartamento no Leblon, mantinha entre seus hábitos fazer sexo depois de assistir ao programa dominical exibido no horário noturno por uma emissora de televisão brasileira.
Com horário marcado a vida se repetia diariamente através de novelas, jantares, viagens, compras, diálogos e notícias. Metódica, a dupla utilizava o anonimato da rede para destilar seus comentários segregados sob uma sociedade que considerava preguiçosa e burra.

Expoente advogada, Deise trabalhava em um escritório renomado com receitas em torno de R$ 10 milhões e mais de 500 processos em carteira oriundos de empresas prestadoras de serviço do Estado. Peixoto comandava sua própria empresa, e entre seus principais feitos estavam às obras de todas as creches públicas e condomínios residenciais de programas sociais da capital carioca.
As mãos acariciavam os cabelos, deslizava pelo pescoço em direção aos seios, seguia pela lateral da costela, dando voltas com o polegar pelo umbigo, até escorregar serenamente e estacionar na vagina. A transa corria como de costume e o ritual seguia sua procissão até que.
– Vou-te vandalizar todinha – sussurrou Peixoto.
Deise até então estática, ameaçou um sorriso no canto do rosto e disparou ao pé do ouvido do Peixotão.
– Quero ter a minha instituição invadida e minha vidraça estilhaçada pelo seu coquetel molotov.
Com os dentes trincados, Peixoto dispara dois tapas na cara de sua amada e amarra sua camisa lacoste no rosto, deixando apenas os olhos amostra.
Em posição de cachorrinho a advogada tem seus direitos cerceados e sua liberdade castrada. Aos espamos grita. – OAB, OAB, OAB –.
Um barulho é ouvido na sala. Passadas pesadas, muitos passos.
De roupão com suas iniciais desenhada no peito, Peixoto caminha até a sala e se depara com aproximadamente seis homens armados.
– Dr. Peixoto – Pergunta o homem com um pedaço de papel nas mãos.
Incrédulo e ainda com o pau em riste, Peixoto não segura a respiração e goza sobre o roupão feito com algodão indiano.


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